Como fazer um Hackathon?
A corrida pela inovação no serviço público começou. Como uma maratona, o Hackathon é uma competição, mas um pouco diferente: a linha de chegada são ideias inovadoras.




 

Hackathon. A palavra pode até soar estranha quando se ouve pela primeira vez, mas vem cheia de significados. O termo é uma combinação de duas palavras:

  1. - hacking (do inglês) vem do mundo da tecnologia e engenharia de softwares, e se refere a uma forma exploratória de programação e de resolução de problemas.
  2. - e marathon (do inglês), que já traz consigo o significado da palavra: um evento de atletismo, reconhecido mundialmente como uma corrida de longa distância que exige preparação, força, determinação e resiliência para ser encarada.

Hackathon, portanto, pode ser entendido como uma grande maratona em busca de soluções para resolver problemas ou criar projetos inovadores por meio de um espaço de aprendizagem competitivo, durante um determinado período de tempo.

Um Hackathon é um evento em que pessoas de diferentes especialidades se juntam para desenvolver de forma ágil e colaborativa ideias que um indivíduo sozinho jamais conseguiria desenvolver. É comum ter palestras e mentorias especializadas que, somadas aos diversos projetos, trazem como resultado protótipos idealizados durante o evento.


problema -> cocriação -> solução -> desenvolvimento -> inovação


O termo surgiu no final dos anos 90 na comunidade tech e já expandiu como estratégia para estimular equipes multidisciplinares e diferentes mentes pensantes, de diversas outras especialidades, em novos formatos inspirados no seu precursor, tais como os Ideathons e Datathons.

 

Ideathons e Datathons?


O termo Hackathon é muito mais conhecido, mas depois dele vieram outros formatos, como o
Ideathon, uma competição semelhante, porém focada em gerar ideias inovadoras para problemas específicos. A diferença principal é que um Ideathon foca na Ideação e no pensamento criativo, e não na entrega e "codagem" (do verbo "codar") da solução tecnológica.


Sessões de
brainstorming, discussões e debates em times, desk researches e outros tipos de pesquisas, pitches de ideias e painéis são bem comuns como parte de um Ideathon, que geralmente leva em conta o seguinte como critério na avaliação da melhor proposta: ajuste da ideia ao problema; criatividade; impacto; dentre outras.

 

brainstorming + debates + pesquisas + pitches + painéis

 

Datathons são modelos parecidos com os outros desafios da mesma natureza, porém focam na análise de dados, estatísticas e modelos matemáticos. Por isso, seus participantes costumam ter especialidades técnicas bem definidas, tais como cientistas de dados e perfis analíticos voltados a resultados, números e demais indicadores de negócios como áreas financeiras, médicas, tecnológicas ou sociais - para citar apenas as mais comuns.

 

O termo data-driven, do inglês, é palavra-chave desse modelo de inovação que, atualmente, lança mão de técnicas de machine learning e ferramentas de visualização de dados para, então, gerar insights que viram informações e conhecimento e, por fim, se chegar a aprendizados e conclusões.

 

dado -> informação -> conhecimento -> aprendizado -> conclusão

 

Apesar da proximidade com os outros métodos, Datathons possuem formatos que podem variar, mas geralmente envolvem um período de exploração de dados, análise desses dados, modelagem e apresentação. E como é de se esperar, a avaliação final é mais específica e leva em conta a qualidade da análise, a metodologia, a forma de apresentação de dados (data-vis) e o impacto das descobertas.

 

Tanto Ideathons quanto Datathons podem ser explorados por empresas de diversos segmentos, instituições educacionais e de pesquisa, grupos

comunitários e também no setor público, é claro, para estimular inovação, criatividade, colaboração e visão de dados.

 

Assim como nos Hackathons, Ideathons e Datathons podem contar com a presença de mentores, consultores e especialistas nos assuntos, para facilitar e apoiar discussões e decisões ao longo do caminho.

 

Como funciona um Hackathon?


Os participantes de um Hackathon precisam correr contra o tempo para sair do ponto de partida até o de chegada. Bem parecido com uma maratona, não é mesmo? E assim como uma corrida,
os participantes se juntam durante um determinado período de tempo em busca de soluções para desafios predeterminados, de diferentes naturezas, todos com um objetivo em comum: competir em busca da "melhor inovação".

Existem dois desafios principais na execução de um Hackathon:
Desafio 01 - Engajamento
Desafio 02 - Desenvolvimento

 

Vamos nos aprofundar em cada um deles?

 

É tudo sobre engajamento.

 

 

Um dos principais desafios para ter sucesso em um Hackathon é garantir o engajamento dos times em três momentos: antes, durante e depois do evento.


Antes do evento
É preciso dar visibilidade para seu Hackathon, de modo a estimular que o maior número possível de pessoas e grupos se interessem em competir. Um bom número de pessoas é fundamental para se construir também um bom número de equipes.

Durante o evento
É igualmente importante se preparar para manter as equipes engajadas durante a maratona. Apesar de excitante, rico em networking e aprendizados, um Hackathon é extremamente cansativo. Lembre-se de oferecer pausas, lugares de descanso e descontração, opções de alimentação e, sobretudo, de manter o clima positivo.

Depois do evento
Muitas soluções apresentadas e premiadas podem não ir para frente - uma frustração tanto para a organização quanto para as equipes. Garanta parcerias, mentorias especializadas e recursos, para que as pessoas possam finalizar o produto e, se aprovado, incubar o projeto.

Quem deve usar um Hackathon?

 
Um dos principais objetivos de um Hackathon é gerar aprendizado. Portanto, mesmo que sua área não esteja atrás de uma inovação disruptiva, um Hackathon no serviço público pode ser interessante para desenvolver equipes internas criativamente.

 

Outra vantagem do Hackathon no serviço público é dar oportunidades para que a sociedade também participe da criação de soluções inovadoras, que acabam voltando como benefício para a própria sociedade.


Dessa forma, podemos alocar o Hackathon como um método de inovação feito para evolução de processos (Melhoria), para desenvolvimento interno (Missão) ou para disrupção (Antecipatória), de acordo com os três quadrantes das diferentes facetas da inovação, criadas pelo OPSI (Observatory of Public Sector Innovation, em inglês).

 

E quando fazer?

Apesar de empolgante, um Hackathon consome tempo, dinheiro e energia. Por isso, criamos uma forma eficiente de saber se esse é o método ideal para resolver seu problema.

Quando fazer

Quando não fazer

Quando você quer resolver um problema que precisa de uma solução tecnológica (ex.: app ou software)

Quando não houver tempo, dinheiro ou energia suficiente para se dedicar antes, durante e depois dessa maratona

Quando seu problema pede por uma análise e interpretação de dados mais profundas, que exigem um olhar especialista

Quando se procura uma solução específica com objetivos já definidos

Quando você quer fomentar um sistema de empreendedorismo e inovação

Quando não há cultura ou predisposição para métodos coparticipativos

Quando você precisar coletar novos insights e ideias fora da sua organização

Quando não houver objetivos e interesses claros e definidos para correr essa maratona

Quando você quer desenvolver uma mentalidade empreendedora e inovadora no time

Quando não houver verba suficiente para prêmios atrativos

Quando você quer envolver a sociedade na construção de soluções públicas de valor

Quando não houver um problema e um desafio bem definidos

 

Assuntos sensíveis para a sociedade


É comum dar vida a Hackathons, Ideathons, Datathons e outros modelos de inovação para gerar ideias e soluções relacionadas a temas sensíveis à sociedade, já que esses modelos cocriativos e colaborativos estimulam a discussão e trazem visões variadas sobre diferentes contextos culturais e socioeconômicos dos participantes.

 

Por isso, quando falamos de métodos inovadores no serviço público, é importante considerar a transculturalidade e promover diversidade - de vivências, de condições sociais, de gênero, de cor, de raça, de orientação sexual e de tantas outras, para garantir um repertório plural e soluções que resolvam o real problema.

 

Como exemplo, considere uma maratona voltada para soluções em periferias de uma grande cidade. É fundamental garantir a participação de agentes que vivem essa realidade, assim como um ambiente seguro para que todos e todas possam produzir e discutir livremente. É essencial, ainda neste exemplo, que as pessoas tenham voz, sintam-se confortáveis e sejam estimuladas a emitir opiniões, contribuindo com suas ideias - provavelmente as mais próximas do problema em questão.

 

Que tal um resumo?


Antes de descobrir o passo a passo de como se criar um Hackathon, vamos relembrar tudo o que vimos até aqui num breve resumo:

O que é um Hackathon?

O que não é um Hackathon?

É uma maratona inovadora cocriativa, que depende de um tema principal e de alto engajamento das equipes

Não é uma ideia predefinida que precisa ser colocada em prática durante o evento

É um ambiente colaborativo, que favorece o networking e a troca de conhecimento, gerando aprendizagem

Não é uma solução 100% garantida, com uma entrega já combinada de antemão

É uma jornada intensa, que exige conhecimento em assuntos específicos e, por isso, pede a participação de especialistas e mentores

Não é um evento acadêmico, como uma conferência, em que são feitas apresentações, aulas e palestras sem aplicações práticas

É uma competição e, sendo assim, precisa de um prêmio para ideias e soluções vencedoras, assim como uma banca avaliadora das soluções apresentadas

Não é um curso ou oficina, em que mentores guiarão a solução do início ao fim

É uma jornada que pressupõe uma entrega e, por isso, necessita de acompanhamento pós-evento, para a incubação da solução

Não é um evento que dura para sempre, até que a solução seja encontrada

 

Vamos agora ao passo a passo para se criar um Hackathon

 

Já descobrimos que um Hackathon gera um aprendizado não convencional. Mas, para isso, é preciso ter clareza sobre seu objetivo-fim e sobre os desafios de se construir um.

Quer uma boa notícia? Ao formatar seu primeiro Hackathon, sua estrutura já estará pronta para os próximos que virão. Vamos, então, entender como tirar essa ideia do papel?



Etapa 01: Definir o método

Esta primeira etapa é prévia ao desenvolvimento do Hackathon em si. Nela, você vai entender se o melhor método para resolver seu problema é um Hackathon.


Pergunta principal que você terá que responder:

a - Eu preciso de um Hackathon?

Para isso, leve em conta tudo o que você descobriu neste artigo e confira o checklist:

Se sua resposta foi sim em alguma delas, um Hackathon pode ser uma saída inovadora interessante.

Referências úteis:
Definição de Hackathon pelo GNova (pág. 42)



Etapa 02: Definir o tema

Na Etapa 02, você vai definir a temática principal do seu Hackathon. Um Hackathon precisa ter um direcionamento claro, mas um resultado ainda incerto.

Perguntas que você terá que responder:

a - Qual é o problema e o desafio principal do meu Hackathon?
b - Qual é o contexto em torno desse assunto?

Materiais de apoio e referências úteis:
Hacker Cidadão
Hackathon Guide (em inglês)

 

Etapa 03: Preparar o evento

Na Etapa 03, você vai construir os fundamentos do seu Hackathon. Assim, vamos garantir que tanto a organização quanto parceiros, patrocinadores e participantes saibam tudo sobre o que está em jogo nessa maratona. Vamos a cada uma delas:

 

Ação 01: Regulamento
Nesta Fase, você vai definir todas as regras do seu Hackathon. O Regulamento é o documento técnico, jurídico e oficial para lançar seu projeto. Atente-se aos detalhes e siga as referências para construir o seu.

Referências úteis:
Regulamento Coronathon

 

Ação 02: Premiação e Reconhecimento

O prêmio e o evento de premiação são dois motivos importantes pelos quais os participantes se inscrevem em uma competição como essa, seja pelo valor financeiro envolvido, seja pela visibilidade e credibilidade gerada.

Referências úteis:
Site Coronathon - Prêmios

 

Ação 03: Manual de Orientações Técnicas

Quando o Hackathon pressupor soluções tecnológicas, esse Manual se torna fundamental para garantir a compreensão dos times, startups e empresas que se interessarem em se inscrever na sua competição.

Referências úteis:
Manual de Orientações Técnicas HackSerpro

 

Ação 04: Plano do Evento

É fundamental que você defina um planejamento de cada etapa da sua maratona, considerando todos os detalhes, os envolvidos, se há eventos paralelos correlacionados antes, durante e depois, o cronograma, dentre outras ações táticas.

Referências úteis:
Caso Mobiliza+SP
Site Coronathon - Etapas e Agenda

 

Ação 05: Plano de Comunicação

Aqui, você vai dar publicidade ao seu evento, criando um Plano Integrado de Comunicação, considerando canais, públicos, pontos de contato, calendário de ações, dentre outros. A dica é montar uma estratégia multicanal de comunicação, para expandir a visibilidade do seu projeto e angariar o maior número possível de inscrições.

Referências úteis:
Plano de Comunicação Empreendedoras Tech

 

Etapa 04: Realizar o evento

Esta é a Etapa que tanto esperamos: o dia de iniciar o Hackathon. Existe uma grande preparação prévia a esta Etapa. A partir daqui, o principal objetivo é garantir que tudo funcione da melhor forma, que todos estejam engajados da largada até a linha de chegada. Nesse sentido, existem 05 Ações importantes que precisam ser feitas:


Ação 01: Coordenação do Evento
Garanta que as pessoas envolvidas na coordenação e gestão do Hackathon estejam alinhadas e cientes do Plano do Evento (criado na Etapa 03, Fundamento 04). Essa equipe é responsável por garantir que o Plano seja executado com primor e engajar participantes e mentores.


Ação 02: Ambiência
O ambiente precisa estar adequado: espaços de trabalho, de descanso e de lazer, alimentação, recursos adicionais necessários, como quadros, flipcharts, materiais de escritório e tudo aquilo que garantirá o conforto e a qualidade do seu evento.

Ação 03: Pessoal Especializado
Também faz parte do trabalho da organização garantir que mentores e especialistas convidados tenham em mãos tudo o que precisam e que estejam engajados e confortáveis para prestarem o serviço que vieram fazer.

Ação 04: Suporte Técnico
O mesmo se dá para o time de suporte técnico. Um Hackathon tem alta demanda de recursos de tecnologia, como conexão rápida à internet, equipamentos técnicos, adaptadores e carregadores, materiais de apresentação, como datashow, microfone e som, por exemplo. E por aí vai.

Ação 05: Seleção e Premiação
Esta é a última Ação do seu Hackathon e ela demanda uma atenção especial, pois é o momento mais aguardado das equipes: a hora de reconhecer seu esforço e dedicação. Garanta que o Processo de Seleção tenha método e organização, bem como a Premiação em si, que pode ser feita no formato de um evento.

 

Etapa 05: Desenvolver a solução

Alguns Hackatons premiam mais de uma solução, e em alguns casos, as próprias equipes desenvolvem essas soluções. Neste caso, esta Etapa já está endereçada.

Caso ainda não exista destino para a solução premiada, é importante dar continuidade no desenvolvimento e implantação, para que o processo de inovação não seja interrompido aqui.


Existem três caminhos mais comuns:

 

Caminho 01 - Bolsa e Mentoria
Uma forma de atrair participantes para o seu Hackathon e mantê-los engajados é oferecendo apoio financeiro e prêmios em dinheiro e, também, suporte de especialistas e mentores para o desenvolvimento de um MVP (Minimum Viable Product, do inglês, ou Produto Mínimo Viável) - uma primeira entrega da solução, para ser testada antes de evoluir.

Caminho 02 - Incubação
Se fizer parte do seu Regulamento, a equipe premiada pode ser convidada para um processo de aceleração, desenvolvendo o MVP de forma a deixar o produto pronto para uso em larga escala. A incubação pode ser feita dentro de uma unidade ou laboratório de inovação, por exemplo.

Caminho 03 - Contratação
Com o Marco Legal das Startups, tornou-se possível realizar a contratação de testes de solução pelo Governo. Alguns Hackathons já inserem o modelo do CPSI (Contrato Público para Solução Inovadora) como uma etapa prevista, possibilitando testar as soluções e contratar aquela que apresenta melhor desempenho. Saiba mais sobre o CPSI neste Épico aqui.

O Hackathon é um desafio.
E, a partir dele, novo desafio lançado.

 

Nos vemos na linha de chegada!


Se você chegou até aqui, já garantiu um bom treino para a maratona que está por vir. Explore essas e outras referências para hackear o mundo da inovação.

Para saber mais sobre outros métodos de inovação na prática, acesse nossa página principal e navegue por outros conteúdos.

 

 

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