Inovação é um conceito amplo e está na moda. Mas já parou para pensar o que, de fato, é inovar? Se recorrermos a alguns dicionários, veremos que inovar é criar algo novo que nunca havia sido feito antes. É buscar novidades. É gerar ideias que possam dar origem a coisas nunca antes imaginadas. É também fazer-se novo, renovar-se.
Inovar é sinônimo de variar, reformar, mudar, renovar, restaurar. E por aí vai. Quanta coisa dá para fazer com a inovação!
Analisando o conceito de outra forma, descobrimos que inovação é um processo de criação e geração de ideias por meio de métodos que dão origem a produtos e serviços úteis na resolução de problemas do nosso dia a dia. Isso envolve uma certa dose de criatividade e experimentação para melhorar o que já existe no mundo - ou para dar origem a produtos, serviços e processos que nunca existiram.
Bom, a inovação pode acontecer em qualquer ambiente, a qualquer momento, em níveis completamente diferentes.
Quer exemplos? Você pode inovar na forma como organiza sua casa (seu microambiente). Ou você também pode inovar no seu setor, mudando a rotina de trabalho de centenas (ou milhares) de pessoas. Percebe a importância e o impacto disso?
Esses processos podem acontecer no mundo da tecnologia, da ciência, dos negócios, no terceiro setor, nos setores público e privado, e assim por diante. A inovação não tem limites. E, o mais importante: é ela que transforma nosso jeito de viver, de trabalhar, de interagir com as pessoas e com o mundo.
Então, prepare-se: é hora de inovar! E a jornada está só começando.
Existem diferentes formas de iniciar um processo de inovação. Uma delas é por meio do Design Thinking, uma jornada orientada pela compreensão de um problema claro e passível de solução, mesmo que pareça, inicialmente, impossível. Primeiramente, é importante que esse problema esteja ligado a um desafio estratégico da instituição.
Antes de iniciar um processo de inovação, é fundamental entender se sua organização ou repartição está aberta e madura para adotar esse tipo de processo. Caso não esteja, poderá ser um gasto de energia muito grande para resultados distantes dos ideais. Mas anota essa dica: se ninguém começar a inovar, ninguém nunca vai inovar, certo? O desafio, então, é persistir e não desistir.
É comum em muitos órgãos públicos ou privados as provocações virem "de cima pra baixo", da alta liderança e de executivos. Esse é o processo top-down. E ele tem vantagens: se a demanda vem de cima, ela já chega com o apoio daquelas pessoas que demandaram. De outra forma: já temos nosso patrocínio.
Para desafios bottom-up ("de baixo pra cima"), é importante o alinhamento prévio com a liderança da área. A vantagem desse modelo é que os projetos tendem a ter um engajamento bem maior dos times - os responsáveis diretos pela ideia proposta.
Não importa se top-down ou bottom-up. O que mais importa é garantir engajamento no processo, começar pequeno, testar rápido e com custo reduzido, tanto de verba quanto de horas dedicadas. Ganhe confiança e segurança na jornada, para que, ao longo do processo, se crie uma percepção coletiva positiva dos impactos gerados. É a partir disso que a cultura de inovação vai se formando. E depois não tem mais volta.
Design Thinking é um modo de abordar problemas em que a escuta empática orienta a tomada de decisão. É uma jornada de descobertas e aprendizados, que precisa ser flexível e iterativa à medida em que avança. Essa jornada não é sempre conclusiva; pode ser que ela não nos leve a soluções desejadas. Ou seja: alinhe suas expectativas.
Esse conceito de iteração é importante para entender o Design Thinking: iteração é o processo de voltar repetidamente em uma ação ou decisão a partir dos resultados de testes e feedbacks, para refinar a solução quantas vezes forem necessárias até se chegar a um protótipo ideal, assertivo, testado e aprovado pela maioria dos usuários.
Os resultados de testes e descobertas - dados, métricas, indicadores - são importantes para justificar a tomada de decisão (uma visão que chamamos de data-driven ou data-oriented).
O Design Thinking deve ser utilizado para abrir possibilidades de interpretações e caminhos possíveis, que jamais seriam identificados sem uma participação colaborativa, cocriativa e multidisciplinar.
O Design Thinking não é uma ferramenta pronta, que vai do ponto A ao B até chegar em lugar previsível. O método nem vai entregar uma solução pronta para tudo, porque não é um processo rígido. Pelo contrário: é preciso compreender que o Design Thinking propõe uma jornada incerta, muitas vezes não-linear. E também que Design Thinking pode ser praticado por organizações de qualquer tamanho e por qualquer pessoa
- e não só grandes cabeças pensantes. Cada pessoa pode contribuir com sua perspectiva e seu repertório e, juntas, explorar a inteligência coletiva para se chegar num lugar em que uma inteligência sozinha não chegaria jamais.
E anota essa: Design Thinking não é a mesma coisa que Design Sprint, ou Design de Serviços, ou Design Gráfico, ou qualquer outro "tipo de Design". É tampouco uma parede cheia de post-its ou murais colaborativos. E também não é modismo ou modinha, apesar de ser usado por muitas empresas como estratégia para "parecer descolada e moderna".
O que é Design Thinking? |
O que não é Design Thinking? |
Experimentação, abertura ao risco, testes, iteração e pensamento fora da caixa |
Um método rígido e restritivo, com um passo a passo a ser seguido à risca |
Ferramenta de solução de problemas e entendimento das dores de usuários |
Focado apenas em perfeição estética, com tudo bem colorido e organização perfeita |
Um método disponível para qualquer pessoa que queira inovar na forma de pensar e trabalhar |
Design Gráfico, Design Sprint ou outras denominações vindas do universo do Design |
Uma abordagem centrada nos usuários e no ser humano, de forma verdadeiramente empática, para suprir suas necessidades |
Soluções criativas e perfeitas, porém impossíveis de serem executadas |
Uma construção colaborativa que se torna mais rica à medida em que mais pessoas, com diferentes conhecimentos, se envolvem |
Somente para designers e profissionais do mundo criativo |
Uma forma iterativa de resolver problemas, com idas e vindas, refações e reconstruções, sempre que necessário, para evoluir as soluções |
Uma tarefa com início, meio e fim bem definidos, com um caminho óbvio |
Uma ferramenta que inspira e provoca criatividade |
Uma tarefa fácil, que pode ser executada rapidamente |
Antes dessa resposta, vamos a outra pergunta: como funciona o Design Thinking na prática?
Essa metodologia de solução de problemas envolve diagnóstico, experimentação, colaboração e empatia para criar soluções mais eficientes. É uma abordagem focada no usuário ou usuária (human- centered design) e busca entender as necessidades e os desejos de cada pessoa.
O método considera 05 etapas: empatia, definição, ideação, prototipação e teste (empathy, definition, ideation, prototypes, and tests, do inglês).
Quer saber mais sobre essa metodologia? Acesse os seguintes materiais:
Design Thinking e Design Sprint - Kit de Ferramentas
Métodos Mindlab - Ferramentas de Design Thinking do Laboratório de Inovação da Dinamarca
Design Thinking Aplicado Serviço Público - Kit de Ferramentas
Em benefício didático, vamos considerar aqui o Duplo Diamante (Double Diamond, do inglês) como ferramenta de Design Thinking para nossos primeiros passos no mundo da inovação.
Normalmente, o Duplo Diamante é composto por 04 etapas: Descobrir, Definir, Idear, Entregar (discover, define, develop, and deliver, do inglês). Ele foi desenvolvido pelo British Design Council e, por isso, os termos em inglês são importantes para o entendimento desse framework, já que existem diversas adaptações semânticas no português e outras línguas.
O Duplo Diamante oferece uma estrutura para resolver problemas (problem-solving, do inglês) e gerar ideias. Tem esse nome porque o modelo pressupõe dois diamantes: o primeiro, composto pelas fases de Diagnóstico e Síntese; o segundo, pelas fases de Ideação e Prototipação.
Vamos, agora, nos aprofundar em cada etapa?
Apesar das 04 etapas consagradas, o Duplo Diamante é uma ferramenta flexível e pode ser adaptada à realidade de cada projeto, empresa, negócio ou repartição. Por isso, adotamos o modelo adaptado para o Projeto Transforma, que adiciona 01 etapa de acordo com os desafios de inovação que um gestor ou gestora pública terá que percorrer.
Portanto, vamos entender essa etapa adicional:
Veja, abaixo, o Duplo Diamante com as 05 etapas mencionadas:
Quer ir além? Então, descubra exemplos de projetos que adotaram esse método:
Cidades que transformam: uma jornada de inovação para a sustentabilidade
Construção colaborativa e transformação em governo: experiência da Enap
A inovação pode acontecer em diferentes níveis organizacionais. Porém, para instituições ou áreas que não estão acostumadas com esse tipo de processo, sugerimos uma abordagem incremental e adaptativa: os primeiros passos devem ser em prol de adaptações e melhorias nos processos já existentes, em vez de grandes disrupções ou invenções
complexas. Em outras palavras: é começar pequeno e ir evoluindo aos poucos.
Anota essa dica: essa é apenas uma sugestão. Se os gestores do projeto decidirem inovar de forma mais abrupta, tudo bem. O recado mais importante é sempre confiar no (seu) processo.
Veja, abaixo, o quadrante em que nossa proposta de inovação está alocada, de acordo com as diferentes facetas da inovação, criadas pelo OPSI (Observatory of Public Sector Innovation, em inglês).
Nem sempre um projeto de inovação é a melhor saída. Confira alguns pontos relevantes nesta discussão:
Quando fazer |
Quando não fazer |
Quando tiver que solucionar um problema com pequeno esforço, porém com médio ou alto impacto |
Quando não há clareza do problema e nem recursos para explorar saídas |
Quando há interesse pela liderança e patrocínio da organização |
Quando já existe uma solução definida, sem espaço para discuti-la ou evoluí-la |
Quando for preciso investigar um tema a fundo, para encontrar saídas que possam ser testadas com os usuários |
Quando não houver um problema; uma rápida intervenção já é a solução |
Quando responder a interesses estratégicos da organização |
Quando responder a interesses pessoais ou de carreiras individuais |
Quando houver energia, dedicação e tempo disponíveis |
Quando não há mandato e a governança não cabe à sua área ou organização |
Quando a organização e o time estiverem conscientes de que um trabalho de inovação é colaborativo e cocriativo, com vários caminhos possíveis |
Quando não houver segurança ou quando houver riscos de o projeto não ter continuidade |
O Design Thinking não é linear, como já sabemos, e tampouco é o Duplo Diamante, a ferramenta que vamos usar para nosso 1º projeto de inovação. No entanto, esse framework vai nos ajudar a chegar à solução do problema que queremos resolver. E você pode adaptá-lo à sua realidade, como fizemos aqui, adicionando uma etapa anterior, para Começar, e duas etapas posteriores, para Viabilizar e Registrar o projeto.
Vamos entender quais ferramentas podemos explorar em cada uma dessas 07 etapas?
Nesta etapa, você vai montar um breve resumo sobre os principais pontos do projeto.
Perguntas que você terá que responder:
a - Qual é o problema inicial?
b - O que já foi feito para tentar solucionar o problema?
c - Quais são as pessoas envolvidas no projeto (os stakeholders)? d - Quais são os resultados esperados?
e - Qual é o pitch de venda da sua ideia, considerando os porquês de se querer resolver esse problema?
Dica: você pode Começar seu projeto no formato que preferir. Inovar é explorar a criatividade ao longo de todo o trajeto.
Materiais de apoio e ferramentas úteis:
Matriz RACI
Matriz CSD
Modelo para Desenvolvimento de Projeto
Etapa 02: Descobrir
Nesta etapa, você vai fazer um diagnóstico profundo do problema em que seu projeto está inserido por meio de pesquisa de campo, desk research e outros recursos que achar pertinente.
Perguntas que você terá que responder:
a - Qual é o contexto do problema?
b - Quais são os atores envolvidos no problema (pessoas usuárias)?
Materiais de apoio e ferramentas úteis:
Desk research
Pesquisa de Campo
Nesta etapa, você vai sintetizar as descobertas da etapa anterior, definindo o briefing do que precisa ser resolvido, reenquadrando o problema a partir dos insights que vieram das pesquisas.
Perguntas que você terá que responder:
a - Quais foram os principais insights gerados?
b - Qual é o verdadeiro problema?
Materiais de apoio e ferramentas úteis:
Modelo de Briefing
Definição de Problemas
Nesta etapa, você vai cocriar com o time as possíveis soluções para o verdadeiro problema definido na etapa anterior, além de buscar referências, tendências, inspirações e benchmarks dentro do mercado de atuação ou em mercados análogos. A partir disso, você e o time precisam priorizar uma única ideia, que seguirá para a próxima etapa depois de uma pesquisa da viabilidade da solução proposta.
Perguntas que você terá que responder:
a - Quais são as principais referências e tendências do mercado? b - Quais são as ideias para solucionar o problema mapeado?
c - De todas, qual será a ideia priorizada?
d - Existem evidências de que o caminho escolhido pode ter sucesso? Quais são os dados, pesquisas e relatórios que as comprovam?
Materiais de apoio e ferramentas úteis:
Módulo 3 do curso "Uso do Design em Políticas Públicas"
Nesta etapa, você vai dar vida visual à solução proposta. A partir daqui, sua ideia vai se materializar em protótipos de baixa, média e/ou alta resolução, para que possam ser testados com os atores impactados pelo problema (usuários reais da solução).
Perguntas que você terá que responder:
a - O protótipo foi testado e validado por usuários reais?
b - Preciso iterar em cima dessa solução, a partir de feedbacks dos testes? c - Tenho segurança de seguir com meu protótipo para desenvolvimento?
Materiais de apoio e ferramentas úteis:
Módulo 4 do curso "Uso do Design em Políticas Públicas"
Nesta etapa, você já cumpriu todo o ciclo do Duplo Diamante e está agora evoluindo para a implementação da solução. A partir daqui, seu projeto de inovação se torna um projeto de execução e viabilização da ideia.
Perguntas que você terá que responder: a - Qual é o meu plano de ação?
b - Qual é o meu plano de implementação da solução? c - Quais são meus parceiros estratégicos?
Materiais de apoio e ferramentas úteis:
Fluxo de inovação
Referência para plano de ação
Nesta última etapa, você vai fazer a gestão do conhecimento gerado em seu projeto de inovação. É o momento de registrar aprendizados e garantir que suas descobertas e toda a inteligência coletiva criada fique disponível para todas as pessoas interessadas e, também, como prestação de contas de um serviço público inovador e transparente.
Perguntas que você terá que responder:
a - Fiz todos os registros necessários do meu projeto? b - Tenho resultados já mapeados que preciso dividir?
c - Tenho depoimentos e informações que me permitem contar a história do projeto?
d - É preciso realizar algum ajuste no percurso?
e - Tenho recomendações para a evolução do projeto?
Materiais de apoio e ferramentas úteis:
Guia CopiCola
Gestão do Conhecimento no Setor Público
Acesse este Kit de Ferramentas de Design Thinking aplicado ao Serviço Público, da Enap, e encontre outras referências para transformar seu projeto de inovação - e o seu dia a dia.
Chegamos ao final de mais um Épico. Para saber mais, acesse nossa página principal e confira outros conteúdos sobre como fazer seu 1º projeto de inovação.
Se quiser ir ainda mais longe, acesse o curso completo sobre o "Uso do Design em Políticas Públicas", da Escola Virtual de Governo (EV.G).
Descubra como transformar sua organização e impactar o cidadão com a inovação.
Faça parte de um movimento para estimular a inovação no serviço público.
O Marco Legal das Startups criou o Contrato Público de Solução Inovadora (CPSI) que veio para viabilizar as compras públicas de soluções inovadoras.